ESTE POST AINDA ESTÁ EM ELABORAÇÃO, PORÉM JÁ É POSSÍVEL CONHECER SEU CONTEÚDO E AS PEÇAS DA COLEÇÃO
Após longo tempo sem me dedicar à criação artesanal, retorno com outro olhar para as coleções passadas e trago novidades.
A primeira releitura é da Coleção Juglans Nigra , em função do significado que enxerguei nessas simples fatias de nozes.
A Coleção Junglans Nigra tem uma história.
Há pouco menos de 10 anos (talvez em 2011), visitando um casal de amigos nas imediações de São Paulo, deparei-me com um objeto estranho; o pingente de um chaveiro. De madeira, com não mais de 2,5 cm, aparentava uma carinha, uma máscara. Seria alguma recordação de viagem?
Meu amigo me viu intrigada e disse, de um jeito muito poético, que era algo gerado na natureza e que ele simplesmente tinha trazido à luz. Era uma recordação de vida. (Bonito, não é mesmo?)
O objeto se constituía numa fatia de “noz negra” (Juglans Nigra); ao se mudar da Argentina para o Brasil, lá pela década de 1960, ele trouxera várias delas. Pelo que entendi, lá, os jovens tinham o hábito de usar essas pecinhas para fazer colares. Mostrou-me uma caixinha cheia de fatias!!!
Fiquei encantada! Cada uma tinha forma única; de um lado uma “carinha” e do outro certa simetria que me lembrava “mandala”. Se posicionadas na sequência de corte, as fatias remetiam à temática da Metamorfose.
Creio que as Metamorfoses encantem a todos. Em velocidades e de modos variados, metamorfoses ocorrem em tudo, nos reinos da natureza, na materialidade, na espiritualidade. Não é à toa que a temática vem sendo estudada por filósofos há tantos séculos e inspirando artistas de toda ordem.
Juglans Nigra é o nome científico da Noz Negra. Em rápida pesquisa no Google, descobri que é natural da América do Norte, comum entre Estados Unidos e Canadá; também existe na Europa. Como já exposto linhas acima, deve ter se disseminado por outros locais de clima temperado, como na região em que meu amigo morava, na Argentina.
Não me cabe aqui falar de atributos nutricionais e outras qualidades, inclusive medicinais, que parecem ser muitos; contudo, para quem tiver interesse, aí vão alguns links:
< https://www.minnesotawildflowers.info/tree/black-walnut>
<https://www.healthbenefitstimes.com/black-walnut-facts-and-health-benefits/>
Sobre Metamorfose, quis trazer aqui o mito de Dafne e Apolo, que apresenta um fenômeno espiritual quase que oposto ao da lagarta-borboleta, tão conhecido. De origem grega, essa história foi apreendida por muitos artistas, dentre os quais o poeta Ovídio (43a.C.-17d.C) em “Metamorfoses”, o escultor Lorenzo Bernini (1598-1680) com sua obra em mármore “Apolo e Daphne”, o músico Georg Friedrich Händel (1685-1759) na cantata de mesmo nome. Os links a seguir trazem, nessa ordem, a história toda, o poema, a escultura e a música:
<https://www.youtube.com/watch?v=BFgIJhPDgkE>
<https://www.youtube.com/watch?v=BFgIJhPDgkE>
Resumidamente, o deus Apolo (Febo para os romanos) teve seu amor rejeitado pela ninfa Dafne, em decorrência de ação inconsequente do deus Eros (Cupido, para os íntimos). Por razões fúteis, este atingiu Apolo com uma flecha de ouro (do amor) e Dafne com uma de chumbo (da repulsa ao amor), fazendo com que os dois se desgastassem numa corrida de “gato e rato”. Enfim, Dafne pediu a seu pai que a liberasse desse tormento e ele a transformou num “loureiro”.
O amor de Apolo por Dafne, no entanto, permanecia tão imenso, que, mesmo como árvore, ele não se afastou dela e passou a trazer consigo, sempre, um ramo de louros.
Vejam que beleza de descrição (negrito meu):
Mal finda a prece, invade-lhe um torpor nos membros, seus seios tenros são por fina casca envoltos, dos cachos crescem folhas e ramos dos braços; pés tão velozes fixam-se em lentas raízes, em seu rosto coberto, um brilho apenas resta. Entanto, Febo segue amando, e pondo a destra no tronco, sente o peito tremer sob a casca e, os ramos abraçando, qual membros, recobre-o de beijos, mas o tronco se esquiva aos seus beijos. Diz-lhe o deus: “Já que não podes ser a minha esposa, serás a minha árvore, sempre a terei nos cabelos, na cítara e aljava, ó loureiro; entre os chefes do Lácio ouvirás os alegres cantos e as triunfais pompas no Capitólio. Serás fiel guardiã do palácio de Augusto, e às portas estarás protegendo o carvalho; como jamais corto os cachos juvenis, com perpétua folhagem, serás sempre honrada”. Peã calou-se, e, inclinando a copa, feito fronte, o loureiro, com seus ramos, anuiu. (OVÍDIO, Metamorfoses I. 548-567).
Muitos tópicos poderiam ser desenvolvidos com base nesse mito, porém não me sinto habilitada para isso. O que me chama atenção é que, por parte de Apolo, a dor da recusa se transmuta em glória e, por parte de Dafne, a mudança de sua forma corporal lhe abre novas possibilidades de participação.
Novos significados é o que sempre procuramos, não é mesmo? Depois dos 60 anos, sinto que ainda mais.
Então, volto, agora, em 2020, com uma releitura da Coleção Juglans Nigra de 2012, enaltecendo a rusticidade das peças de madeira, brincando com as caretas e as mandalas, desconstruindo e dando novos significados às fatias de nozes.